sábado, 27 de dezembro de 2008

Indisciplina e a Biologia do Amar

Este texto foi desenvolvido após ter conhecido o trabalho do médico e biólogo chileno Humberto Maturana e a Biologia do Amar, em dezembro de 2007.

Introdução
A recente pesquisa realizada pela REVISTA NOVA ESCOLA E IBOPE, onde foram entrevistados 500 professores de redes públicas em todas as capitais brasileiras, e cujo objetivo principal era o de investigar como os professores se relacionam com o trabalho, os alunos e a escola, nos revela que os alunos são vistos, pela maioria, como desinteressados e indisciplinados, e que, juntamente com a família, são percebidos como os principais problemas da sala de aula.
A partir desta constatação, resolvemos trabalhar com o tema Indisciplina, propondo uma reflexão, não somente como meros pensadores, mas também, como agentes e sujeitos que podem contribuir para a modificação deste cenário.
Nossa reflexão seguirá a ótica da família, da formação humana, pois estamos partindo do princípio de que uma certa indisciplina existe dentro do meio do aluno e que surge, sobretudo da instabilidade familiar (um dos pontos revelados na pesquisa mencionada acima), e apesar do meio não ser um fator determinante, influencia de forma extremamente relevante para o desenvolvimento fisiológico e psíquico dos seres humanos.

A Família e a Biologia do Amar
Começaremos, então, com as seguintes questões: de onde surgiu o que chamamos de família? O que é família?
Tentaremos responder tendo como base às idéias do médico e biólogo chileno, Humberto Maturana, cujo interesse pela organização do ser vivo o levou a estudar e relacionar culturas e comportamentos passados e presentes, buscando na prática, no campo da educação, as situações que motivam comportamentos ditos anormais, e como modificá-los através da Biologia do Amar.
Foi através da Biologia do Amar, que o homo sapiens se tornou o Ser Humano. Amar é um ato cotidiano. O relacionamento humano está baseado no afeto desde nossos antepassados, por isso pertencemos a uma linhagem neotênica, isto é, conservamos características da infância na vida adulta.
Segundo Maturana, o ser humano tem, por característica, o fato de que o bebê necessita de cuidados por um longo período, se comparado com outros seres vivos. A expansão da infância implica em um cuidado corporal, emocional e relacional. Sabemos hoje, que para um desenvolvimento adequado, precisamos de uma atenção que vai além da alimentação e da proteção contra o frio e os perigos. Precisamos de atenção especial, de um cuidado, a partir do qual desenvolvemos o prazer de estar junto com o outro. O convívio com o outro(a), mais do que uma necessidade, tornou-se algo agradável. Ainda segundo Maturana, “tornamo-nos humanos quando passamos a conservar um modo de viver, em que há um prazer em estarmos juntos, cuidando dos bebês. E também quando a sexualidade passa a ser separada da reprodução, tornando-se parte do prazer da convivência”.
A necessidade de viver em grupo, em busca de ajuda mútua e proteção, cuidando das crianças e tendo o prazer do contato e da convivência, em uma interação que envolve a emoção e a linguagem, foi a origem, e ainda é o determinante da forma de viver em grupo, tão humana que chamamos de família. Família é todo grupo que cuida, e é dentro de nossa rede social significativa, da qual a família (tenha ela o formato que tiver) faz parte, que construímos a imagem que temos de nós mesmos. É com ela que o indivíduo aprende quase tudo. E, mesmo sofrendo mudanças e assumindo as mais variadas formas de composição ao longo dos anos, a família não perde a característica de ser uma organização baseada no cuidado, na emoção básica que Maturana chama de Amor. O Amor não é um valor moral, nem uma virtude, nem algo que venha de fora, mas uma ação, uma atitude de aceitação do outro(a) como uma pessoa legítima na relação.
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Família e Indisciplina

Quando falamos em família, costumamos pensar em um modelo com o qual estamos mais acostumados (familiarizados), e o tomamos como padrão de normalidade e de funcionalidade.
Hoje podemos afirmar, com segurança, que não há nenhuma evidência clínica, histórica ou estatística, que possa garantir que uma forma de organização familiar é, a priori, melhor que as demais. O pequeno (ou às vezes grande) grupo de convivência que chamamos de família, é um recorte, variável, arbitrário, de uma imensa rede social de que fazemos parte.
Maturana nos diz: "o conhecimento é um presente do outro". Somos quem somos por que alguém assim nos reconhece.” Com freqüência falamos como se a identidade de alguém fosse uma propriedade permanente e estrutural. A identidade resulta de uma dinâmica sistêmica, (relacional). As características de um organismo qualquer resultam de uma história de interações...".
Por isso falar de indisciplina é um tanto complicado, pois estamos nos referindo a formas de pensar, culturas, formas e modos de ser de pessoas, determinadas pessoas das mais diversas organizações familiares.
Mas podemos, no entanto, de acordo com nossos levantamentos, destacar dois tipos de indisciplina mais encontrados no ambiente escolar: a indisciplina pessoal e a indisciplina institucional. Por indisciplina pessoal entendemos a falta de um incentivo pessoal, falta de um projeto para a própria vida, coisas a fazer, inclusive as que poderiam dar prioridade. Por indisciplina institucional entendemos a falta de respeito e cumprimento de normas de uma instituição, seja ela a escola como qualquer outra, aqui nos deteremos à escola, a qual nos interessa neste trabalho.
Mais de 90% (noventa por cento) dos pais e professores concordam que a origem da indisciplina está em casa, no lar, a primeira escola.
A ausência dos pais, agravada pela omissão e pouco interesse no dia-a-dia dos filhos, fez com que a permissividade ganhasse espaço e também degradou a relação da família com a escola. A participação da família é fundamental para que a criança se desenvolva como estudante. Por isso, ela deve ser motivo de preocupação.
Em um dos materiais pesquisados, encontramos um trabalho realizado com crianças, jovens e adolescentes de Porto Alegre, por Hermes José Novakoski, filósofo e escritor amador. O trabalho consistiu em entrevistas com pais, alunos e professores sobre o tema indisciplina. Em suas observações ele constatou que todas tinham sérios problemas familiares, tanto de relacionamento como de convivência. E nos relata o que uma criança lhe contou, para tentar explicar a origem da sua agressão, desinteresse, indisciplina e de seus conflitos.
Meu nome é Paula* (*nome fictício), tenho 12 anos, meu pai tem 33 anos e minha mãe tem 42 anos. Tenho 9 (nove) irmãos, mas moramos em onze na casa. Comecei a estudar com nove anos e hoje estou repetindo a 3ª série. Gosto de estudar. Este é o sétimo lugar que estou morando. Nos mudamos para cá no início deste ano. Conheço meu pai, mas não tenho contato com ele. Ele não mora conosco há cinco anos, pois minha mãe não quis mais viver com ele. Vivi com ele por um tempo curto, mas como ele está com outra mulher eu não quis mais ficar com ele. Hoje não gosto mais do pai porque ele não vem os ver.
O escritor nos revela que a aluna não mostrou resistência em falar e não se emocionou em nenhum momento, falava com muita tranqüilidade. Quando perguntada se ela queria aprender a fazer alguma coisa ela respondeu que não tinha vontade de aprender nada, e não sabia fazer nada.
Quanto à mãe da menina, foi percebido o desinteresse pelos filhos. Para ela o importante era ter o que comer, o restante não lhe interessava mais. Seus filhos ficavam jogados pelo chão sem atenção e quando foi perguntada sobre indisciplina e como ela via seus filhos, disse que não queria saber de nada e que seus filhos estavam bem, se eles faziam bagunça era problema deles e a escola tinha que resolver com eles.
Este é um bom exemplo de como uma família desestruturada, com poucos valores e princípios, sem normas para regerem suas vidas pode influenciar no comportamento da criança em sala de aula.
Ficou claro que no caso de Paula a origem, em parte, está na família.
Mas então o que, nós, educadores, podemos fazer para que a fragilidade das relações familiares não comprometa nosso desempenho e conseqüentemente de nossos alunos?
Mais uma vez recorremos a Maturana e a Biologia do Amor, desta vez citando o filme “O Triunfo”, utilizado como exemplo na apresentação em sala de aula.
Neste filme conhecemos a história de Ron Clark, um professor obstinado a fazer a diferença na vida de cada um de seus alunos através de princípios sobre como viver, interagir com os outros e apreciar a vida.
Ron Clark nos mostra que não podemos disciplinar nossas crianças sem amá-las e não podemos amá-los sem discipliná-las, as duas têm que andar juntas. E, misturando disciplina e afeto na mesma medida, ele consegue, através de uma lista de princípios, valores e regras, transformar alunos apáticos, com dificuldades de aprendizado e problemas comportamentais em estudantes disciplinados, atenciosos, interessados, educados, responsáveis por seus atos e preparadas para o convício social.


Conclusão:
As experiências com sucesso apontam para um pacto, resultado de um processo de discussão de direitos e deveres, com toda a comunidade escolar, envolvendo as famílias. Alunos motivados, com o professor trabalhando de forma diversificada e criativa contribuem, efetivamente, para um ambiente de aprendizagem e respeito. Escolas perdem o sentido se não conseguem dar significado ao aprendizado.
Diante de uma crise de valores e princípios, é preciso que a escola contribua para recolocar na sociedade, valores humanos fundamentais como a justiça, a solidariedade, a honestidade, o reconhecimento e a aceitação das diferenças, o respeito à vida e aos direitos humanos básicos.
Sendo assim, não basta ao professor a competência profissional, pois há a necessidade premente de uma base ética que lhe permita ajudar na formação de pessoas que terão a consciência de que o fundamental não é saber tudo, mas é ser humano. É por isso que transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é tornar sem importância o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador.
Ao evocar o amor, Maturana explica que estamos evocando as condições sistêmicas e evolutivas que constituem o ser humano, reconhecendo que, como seres humanos, originamos a partir do amor e somos dependentes dele.



Referências Bibliográficas:
Suplemento do Professor - Folha Dirigida- Rio de Janeiro- novembro, 2007
Revista “Nova Escola” - Editora Abril - novembro, 2007
Maturana, Humberto Emoções e linguagem na educação e na política -Belo Horizonte: UFMG, 1999
Maturana, Humberto – Formação humana e capacitação – Ed. Vozes, 2003
Estrela, M. T Relação pedagógica, disciplina e indisciplina na aula - Porto Editora, 1998
Freire, Paulo - Pedagogia da Autonomia - São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura)

Sites:
www.comitepaz.com.br
E a família como vai? – Juares Costa
www.geocities.com/pluriversu
Autopoiese, Culura e Sociedade – Humberto Maturana

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Biblioteca digital

Uma bela biblioteca digital, desenvolvida em software livre, mas que está prestes a ser desativada por falta de acessos.
Imaginem um lugar onde você pode gratuitamente:

· Ver as grandes pinturas de Leonardo Da Vinci ;
· Escutar músicas em MP3 de alta qualidade;
· Ler obras de Machado de Assis ou a Divina Comédia;
· Ter acesso às melhores historinhas infantis e vídeos da TV ESCOLA
· e muito mais....

Esse lugar existe!

O Ministério da Educação disponibiliza tudo isso, basta acessar o site:

www.dominiopublico.gov.br

Agora não há mais desculpas, vamos aproveitar essa oportunidade.
Para frente é que se anda!!!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Artes, por que estudar?

Alguns ainda questionam o motivo pelo qual estudarmos Artes.
Para que serve? Para que precisamos saber sobre artes?
É notório que vivemos cercados pela arte desde que nascemos, seja em uma canção de ninar ou em uma parede pintada com motivos infantis, etc. Aí, crescemos mais um pouco e vem a TV, os livros, o rádio, o cinema, os desenhos nos cantos da folha de carderno, tatuagens e por aí vai.Ainda assim algumas pessoas não enxergam esta proximidade tão grande existente entre o ser humano e a arte e sua importância ao longo da história da humanidade.Afina, a Literatura não é uma das 7 artes consagradas? E a música, o cinema, a dança, o teatro, pintura...? Será que pelo fato de não sermos dançarinos, por exemplo, não precisamos saber nada de dança, nomes de espetáculos, dançarinos famosos, nada? Só por que não somos pintores não temos que conhecer Pablo Picasso, Tarcila do Amaral e outros mais? Só por que não fazemos esculturas não devemos saber quem foi Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho? Ou ainda, será que por não sermos nenhum dos exemplos mencionados não nos compete julgar nem criticar nehuma delas? Por que para tal, precisamos ter o mínimo de conhecimento e se não o tivermos, vamos falar sobre o que? Veja, por exemplo, a declaração abaixo da cantora Maria Betânia. Se ela pensasse que por ser uma artista, uma cantora, ela não precisasse saber falar, criticar as coisas que julga errada em seu país e que sua opinião sobre qualquer coisa fora da música não fosse válida, não teríamos declarações como estas de uma cantora que é antes de tudo uma cidadã brasileira:"Sou brasileira. Responsável e séria. Por isso mesmo, me zango muito. E cada vez que vejo essa palhaçada, essa mentira, esse Brasil virtual, poderoso, paraíso, fico gelada, porque parece que a gente é maluco, mas não é. (...) Esse Brasil que é anunciado todos os dias, maravilhoso, melhor dos melhores, que vai ser o maior produtor de petróleo do mundo... Gente, dá um tempo! Veja um pouquinho mais de perto... Está tudo muito longe, desfocado, um paraíso que eu não consigo ver daqui. (...) Não gosto de ser tratada como imbecil". Maria Bethânia, que pela primeira vez se apresentou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Assim como um artista precisa saber o que falar e sobre o que falar, os "não artistas" também, pois estaremos sempre sendo ouvidos e observados por outras pessoas. Nossas conhecimentos e opiniões devem ser bem articulados para serem levados a sério, para sermos ouvidos com credibilidade sem sermos mal interpretados e julgados e se, como vimos acima, a arte nos cerca o tempo todo, desde que nascemos, por que não estudá-la?